Mulheres e o boom do endividamento:

uma análise crítica sobre as novas formas de exploração do capital 

O livro “O sistema financeiro e o endividamento das mulheres”, com lançamento previsto para o final do mês de março, reúne feministas e economistas com perspectiva de gênero para aprofundar o grave problema do endividamento crescente das mulheres e a chamada financeirização da vida.

 O neoliberalismo vive atualmente uma ofensiva de expansão da financeirização econômica, que por chegar a diversos âmbitos das atividades humanas, tem sido chamada de financeirização da vida. O sistema financeiro vem permitindo e ampliando novas formas de exploração, tanto dos recursos chamados naturais quanto da mão de obra, fatores essenciais à acumulação de riquezas. E esta expansão acelerada está acontecendo em escala global com um alto custo social e desencadeando novas e muitas violências.

A publicação, elaborada pelo I. Equit, busca trazer para o debate alguns dos aspectos que correlacionam a própria ampliação recente do sistema financeiro com sua expansão na sociedade, e em particular com a perspectiva de sua atuação sobre os territórios e as pessoas que neles vivem e sobrevivem, em particular as mulheres, com o intuito de esmiuçar como o sistema financeiro se desdobra nos territórios e que formatos assume na vida das pessoas.

O endividamento é processo antigo e bem conhecido da população, mas que vem tomando uma importância cada vez maior no cotidiano das famílias, e nesse sentido, a publicação busca analisar o chamado extrativismo financeiro enquanto uma das formas da nova ofensiva de exploração capitalista.

Temos percebido que as formas de expansão do financiamento estão muito ligadas ao crescimento da informalidade nos territórios, e que as mulheres são a maioria dos trabalhadores da informalidade, além de estarem desocupadas em maior proporção e com rendimentos menores. Por outro lado, a responsabilidade ainda majoritária das mulheres com o cuidado da casa e a manutenção do funcionamento familiar, faz com que carreguem o enfrentamento dos custos da sobrevivência e a luta cotidiana e concreta que vivem as famílias para a distribuição e uso dos recursos, recorrendo aos créditos e endividamentos para suprir necessidades básicas.

Finalmente, num contexto de brutal desemprego, de falta total de regras de proteção trabalhista, de normalização crescente das atividades econômicas ilegais, e de expansão do militarismo e das violências enquanto “pedagogia da crueldade”, percebemos na financeirização da vida um elemento central para viabilizar novas formas de lucro. E entender como esse fenômeno se dá sobre as populações, e em particular sobre as mulheres, torna-se a cada dia mais importante para quem pretende ter uma ação transformadora sobre o mundo.

Entretanto, a crítica, por mais lúcida que seja, não seria suficiente se surgisse como um discurso desconectado das lutas, das resistências, “de tudo o que não encaixa e grita” segundo Savater. É preciso pensarmos a emancipação das classes despossuídas como obra e resultado das ações delas mesmas. E porque a luta cotidiana e as táticas de vida de tais atores e atrizes sociais são fundamentais, o último capítulo da publicação estará destinado a dar voz às mulheres, escutar suas formas de conviver, aproveitar, sofrer e disputar com as finanças, agindo em seus corpos e territórios, e também a nos solidarizarmos com essas infinitas e perseverantes lutas de resistência.

Por isso agradecemos a tantas mulheres que nos deram seus depoimentos e nos mostraram suas táticas de guerrilha para sobreviver. E também ao apoio fundamental do “Fondo de Mujeres del Sur” que viabilizou nosso trabalho e esta publicação.

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