Efeito Bolsonaro: fazendeiros promovem o “Dia do fogo” no Norte do Brasil

Queimadas devastam a região Norte do país enquanto presidente assiste

Há quase quinze dias o país e o mundo assistem a um massacre grotesco que está bem longe de ser apenas uma crise ambiental. Trata-se de um reflexo da política inescrupulosa de Bolsonaro.

As centenas de focos de incêndio na região amazônica foram incentivados por fazendeiros e madeireiros através do “Dia do Fogo” que, em decorrência da política desrespeitosa de Bolsonaro, ganharam este ano mais força que nunca, tendo feito as queimadas neste primeiro semestre do ano subirem 83% em relação ao mesmo período de 2018.

A crise ambiental desencadeada é reflexo de um conjunto complexo de posturas do atual governo, e já começa a transformar-se em uma crise internacional, na medida em que o assunto da devastação da Amazônia reverbera como manchete global de preocupação, e tem relação com o eterno conflito entre os donos das terras e os setores que delas vivem; camponeses, indígenas e sobretudo mulheres que sobrevivem do extrativismo.

Desde o golpe, os governos golpistas vêm proporcionando uma série de estímulos no sentido de mudar o modelo de produção agrícola no país. As aberturas que Bolsonaro promove rumo à expansão agrícola através do desmonte da fiscalização (que não controla mais, por exemplo, a porcentagem de terra privada destinada à preservação dos biomas, isto é, que deve ficar intacta), de ataque aos órgãos de pesquisa, como o recente questionamento de presidente acerca da veracidade dos dados fornecidos pelo INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais –, chegando a demitir o chefe do órgão quando este entregava dados alarmantes sobre as queimadas, ao invés de investigar e frear os mesmos.
Toda essa permissividade e mesmo legitimação vinda do governo, deriva nessa escandalosa chamada ao “Dia do Fogo”, no último dia 10, que convocava os fazendeiros a colocar fogo em diversos pontos da Amazônia e cerrado brasileiro, quase duplicando o estrago do fogo feito no mesmo período do ano passado.

A blindagem midiática a todo esse processo foi total. Apenas com a chegada da fumaça a São Paulo o caso foi visibilizado e repercutiu na mídia.

Bolsonaro é responsável não só na medida em que fomenta em seu discurso esse tipo de atitude a partir da impunidade que promove – o qual afirma desde sua candidatura –, mas também na efetiva desmobilização e desmonte do processo fiscalizatório, enfraquecendo e deslegitimando os órgãos competentes pela fiscalização e pesquisa no que diz respeito às leis ambientais, que também estão sendo modificadas, tornando-se ainda mais permissivas ao desmatamento do que já eram.

Apesar do repúdio global à situação calamitosa, alguns países, como a Noruega e a Alemanha, chegaram a oferecer recursos para tratar de minimizar os impactos através do apoio a comunidades com projetos de desenvolvimento sustentável que foram dispensados por Bolsonaro, que respondeu dizendo que podiam voltar para seus países porque não precisávamos de seus recursos, quando evidentemente estes eram fundamentais.

Os mais afetados por esse crime sem precedentes certamente serão as e os indígenas, que vivem e tem preservado a vida na Amazônia, na medida em que suas formas de vida estão em harmonia e dependência com a natureza, mas não somente eles: todas as populações ribeirinhas, mulheres extrativistas manuais (como as quebradeiras de coco babaçu), pescadores, além de todas as populações rurais que utilizam a região para extrair sua subsistência e sobretudo, todo o conjunto da humanidade, na medida em que a Amazônia é uma fábrica de água, matéria verde, biodiversidade. É um patrimônio da humanidade, que vem enfrentando uma de suas piores crises. Uma crise ecológica profunda, mas também uma crise civilizatória promovida pelo afã à concentração da riqueza que é esse espetáculo deplorável e dantesco a que assistimos.

Nesse sentido, chama um pouco a atenção a hipocrisia dos países europeus que, enquanto obrigam os países latino-americanos a exportar matéria prima e minério, por outro lado gritam quando se está queimando a Amazônia, mas na verdade foram e continuam sendo os causadores do problema, da desigualdade brutal no mundo e que cada vez se aprofunda ainda mais o sistema financeiro.

 

 

 

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